quarta-feira, 4 de julho de 2007

Mecanizar-se

   Acordou às sete e meia da manhã. Sempre achou que este era o horário mais claro de qualquer mente. Uma noite bem dormida, era isso que qualquer pessoa precisava para reiniciar o cérebro. Depois das convulsões de idéias que ocorrem na madrugada, a manhã é o horário em que todos os arquivos temporários são apagados e já é possível pensar sem que seus próprios pensamentos lhe passem a perna.
   Foi por isso que acordou às sete e meia da manhã. Nenhum outro motivo realmente importante pode ser citado. Tinha olhos de zumbi, o corpo ainda estava quente pelas cobertas. Levantou-se o menos pesarosamente que pôde – deixar que os sonhos morram é realmente difícil – e caminhou até o guarda-roupa.
   Esse não é um conto de fadas em que os mocinhos entram em móveis e acabam encontrando um mundo encantado. Não, esta é uma história real. O máximo que poderíamos encontrar seria um mundo doentio, mas, talvez por isso, ela não tentou entrar na mobília. Abriu as portas e pegou uma série de livros. Deitou-os sobre a cama. A pilha era grande, como corpos jogados depois de uma guerra.
   E, então, engoliu cada um deles. Cada pedaço de página. As capas vermelhas começavam com um ardiloso gosto de maçã e terminavam com morangos. Grandes morangos gostosos. As verdes cheiravam à hortelã e as rosas lembravam mangas maduras. Capas pretas, de cacau. Capas brancas, de banana. Tudo cautelosamente triturado e enviado para o próximo setor. Algumas vezes encontrou coloridos diferentes com gosto de algodão doce. Mas as páginas, ela garantiria, sempre eram brancas e sempre tinham um fervoroso gosto de idéias.
   Comeu todas as frutas. Comeu todas as idéias. Comeu cada uma das capas, cada uma das páginas. Uma por uma, sem deixar migalhas. Quando terminou o banquete, estava tão farta que não teve mais forças. Dormiu. O sono das idéias sendo arquivadas pelo cérebro.
   Mecanizar-se, mas jamais automatizar-se. Ela era uma máquina pensante, diziam-lhe nos sonhos, e as idéias eram seus combustíveis.

20 comentários:

Anônimo disse...

você tem O dom pra escrever, mesmo :O

Anônimo disse...

Oláá, td bom?

Ah, eu adorei essa história, essa coisa de comer livros é super monteiro lobato que eu adooro ^^
Até mostrei pra minha amiga =D

=*

Anônimo disse...

nossa Emi... esse realmente tá muito bom.
Coma, mas digira-os depois... pra não correr o risco de aceitar tudo que els tentam passar...

descolonizado disse...

[Deus salve seu cerebro]

... quando eu crescer quero ser igual a você Emi...

adorei.





beijos.

Del Santana. 22. disse...

Eu estou precisando de um banquete desses...

:)

Emi, vc já escreveu algum livro?
Se não, pensa na idéia?

(Podes crer q jah tem uma leitora! rs)

Bjooo!!! Ahhhh... Eu tb tava no Central Park esses diasss... hoho

Anônimo disse...

Nossa... Que inveja (juro que branca!) do seu dom de escrever...!
=)

Beijinhos

Anônimo disse...

Oi, achei teu blog pelo google tá bem interessante gostei desse post. Quando der dá uma passada pelo meu blog, é sobre camisetas personalizadas, mostra passo a passo como criar uma camiseta personalizada bem maneira.(If you speak English can see the version in English of the Camiseta Personalizada. Thanks for the attention, bye). Até mais.

Anônimo disse...

Nossa, tu escreve muito bem. adorei o conto.

;}

tbm preciso de um banquete assim.

Anônimo disse...

Muito bom o seu texto, viu?=) continue escrevendo assim, vc vai longe!
Bjs e carinhos, fica com Deus

hotspot_fortaleza disse...

ola

passando p/ conhecer seu blog




http://hotspotfortaleza.blogspot.com/

Anônimo disse...

simplesmente fantástico*

ella disse...

que delícia tudo por aqui ;D
voce alegra minhas manhãs [é pq eu li hoje de manha]
uhuul :*

Anônimo disse...

ola estou passando em alguns blogs para divulgar o meu ele eh novo entao espero q vc goste ... se quiser ser destaque soh eh comentar falando ^^... bjus

Olivia disse...

Gostei. Com um pouco mais de amaciante dá um bom roteiro. E quem sabe um curta não saia disso.

beijos.
www.oxetrem.com
To em conquista;

Scarlett M. disse...

aah! é d uma coleção, qual é o grilo?
algo assim, chama caminhando contra o vento
é tiop sobre os anos 60 e pa
é muito foda :D

Anônimo disse...

Eu faz tempo que não me farto de um banquete desses....
Fica com Deus. Beijos.

Anônimo disse...

uauu que perfeito!
cronica maravilhosa...

Anônimo disse...

Você escreve muito bem, temos sentimentos parecidos ;D
Devoro livros, como a garota do conto. Como se fossem um banquete, um manjar dos deuses. Amo livros, de paixão. :­D
Adoro seus comments, são tão cheios de conteúdo! Você tem talento x)

;***

Anônimo disse...

Esse banquete é um dos melhores, mas acordar a esse horário... Isso não dá para mim!
Bjitos!

Lari. disse...

oiee!!
texto muito bem escrito!!

OHAohaohA

bem .. me apresentando:
eu sou a lahri, amiga de aleksandro, do seu curso de ingles, que mandou ele te perguntar sobre o layout!
;X

adoro o que voce escreve...

bzu