terça-feira, 17 de julho de 2007

Amálgama

 Todos os grandes poetas escrevem a dor
 os cantos de paz ficam ao vento, são sensações fugazes
 é sempre preciso que um homem tropece; caia; estoure; torne-se cacos
 Assim faz-se história
 é sempre preciso que se tenha ritmo; trilhas; sonoras; trincheiras
 Assim faz-se história
 O homem é poeta da dor - ama doer-se;
 Fragmenta linhas para que as sinta partindo-se: poemas
 Corta pedaços de carne, de letras, de signos
 O sangue que jorra é a emoção no seu auge
   está pronto o poema
   mais um sorriso sacrificado em benefício da história
 A imortalidade é sofrível,
 tão poucos os homens que cresceram com ode à paz
 Desfragmentemos as linhas. É preciso mais que dor e abismo para construir grandes mitos assim como os grandes heróis sempre triunfam após tantas quedas é necessário que cada poeta possa respirar aliviado no triunfo final da sua dor sentir-se imortal não pelo que chorou em palavras e escorreu em papéis mas pelo que transbordou para acalmar seu leito assim como fazem todas as grandes tempestades nos pequenos copos de água assim como faz o mundo;
 Desfragmentemos a felicidade. Agora todo homem é convocado a cantar a paz assim como pequenas histórias infantis e velhas cantigas de ninar já que o homem em seu final é sempre o saldo de suas ações que positive seus sons e que sorria suas letras;
 Desfragmentemos os poetas. Os ruídos serão considerados arte e a luz e os passos e as entranhas e os sorrisos e os tímidos e os trôpegos e cada mulher e cada homem e cada face e cada ruga e cada suspiro e cada pensamento e cada respiração e cada piscada e cada gozo;
 Desfragmentemos o mundo. Para que cada mão calejada sinta-se a reencarnação do sucesso para que cada gota de suor saia leve e concisa de que foi fruto da felicidade maior que é viver;
 Desfragmentemos as linhas. Para que saibamos um dia desfragmentar nossas vidas;
 E todo grande poeta escreverá o sorriso
 E assim far-se-á história.
 Desfragmentemos a história,
 antes que viremos apenas fragmentos da grande amálgama que somos nós mesmos.

3 comentários:

Mi do Carmo disse...

É isso mesmo. Em palavras menos rebuscadas e em uma frase mais medíocre, temos que sofrer para snetir que a felicidade vale a pena. Esse ser humano é muito, muito estranho.

Anônimo disse...

de facto, a dor é o sentimento mais inspirador para os poetas. mas há que elevar também o amor, a felicidade. são todas emoções e fazem todas parte da vida.

descolonizado disse...

oh Deus me dá metade da iluminação dessa garota.

saudades!