terça-feira, 31 de julho de 2007

A vida não pára: o automóvel, sim

   A Terra surgiu muito antes dos homens e já foi palco de inúmeras formas de vida. Com a aparição das interferências antropogênicas a constância das transformações no planeta multiplicou-se e ampliou seus patamares de ação. O mundo mudou de cara e mudou de comportamentos. O ser humano, apesar de sempre dependente do meio, age unicamente em benefício da própria espécie. O aquecimento global é apenas uma das conseqüências mais visíveis dessas interferências.
   O efeito estufa, responsável pela possibilidade da vida, é agora uma das maiores ameaças à humanidade. E, ironicamente, suas principais causas estão justamente nas ações das pessoas. O planeta, como um corpo febril, aqueceu-se sob a ação dos gases poluentes, das mudanças nas vegetações e da criação das ilhas de calor.
   Considerarmos que o planeta comporta-se como um organismo vivo que depende de todas as ações é tanto clichê quanto real. A teoria do caos é um pleno exemplo de como a ação dos homens acaba por influenciar também outras formas de vida. Se uma borboleta pode causar um tufão em outra parte do mundo, imaginemos, por exemplo, a proporção das conseqüências da emissão diária de toneladas de gases poluentes na nossa atmosfera.
   Convém notarmos que até mesmo o início de ações imediatas só pode causar mudanças em cerca de um século. Este, que deveria ser um alarme sem igual para a importância da causa, é também um dos motivos pelo qual ela é relegada. O homem é dotado de egoísmo e imediatismo que o faz preocupar-se apenas com o que cabe em sua expectativa de vida.
   É provável que muitas espécies possam desaparecer devido ao aquecimento global. Nesta categoria podemos incluir os próprios humanos. No entanto, muitas outras possuem uma incrível capacidade de adaptar-se. Falamos do mesmo planeta que já sobreviveu a uma Era glacial, que, no entanto, dizimou os dinossauros. Devemos entender que ele não precisa dos homens: a Terra continuará existindo e, provavelmente, continuará a compor vida.
   O homem, tão egoísta e certo de sua pujança, deveria entender que lutar por um respeito ambiental e desenvolvimento sustentável é lutar essencialmente por sua própria existência. Deve, então, compreender que a falta de ações acarretará em ainda maior nível de conseqüências em curto período. Só assim dar-se-á início as atividades necessárias antes que o homem confirme-se, como nas palavras de Hobbes, lobo do próprio homem.

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Guerras

  Existem muitos motivos e muitas maneiras de declarar uma guerra. Uma das piores é declarar guerra contra você mesmo. Não apenas porque você sabe que isso vai acabar machucando outras pessoas, mas porque a garantia de mundo que nós temos está limitada a nós mesmos. Talvez você não tenha sido pequeno o bastante para experimentar essas sensações, mas elas existem e as perguntas podem ser constantes: O mundo existe ou sou só eu? E, sendo só eu, como é possível olhar no espelho e odiar-se por não ser como tantos outros? Como é possível olhar para as outras pessoas e querer ser mais elas do que você mesmo? Por que, tantas e tantas vezes, o que fazemos é sempre muito pouco ou quase irrelevante perto do que as outras pessoas conseguem fazer? Por que quanto mais você tenta mudar mais você fica encarcerado no que você não quer ser?
  Não é inveja, ou talvez seja. Talvez sejam sempre os problemas de auto-estima e uma vontade infinita de poder quebrar grades que parecem nos perseguir.
  E talvez, só talvez, bem lá no fundo, mas eu sei que é exatamente isso, seja apenas vontade de deitar na grama debaixo de uma árvore, mas não ter grama e não ter árvore. É assim que começam as guerras.

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Vôo 3054

  Atrasada, né? Nem vou usar minhas palavras, hoje não. Hoje deixo por conta do Renato Russo:
 
  "'É sangue mesmo, não é mertiolate.' E todos querem ver e comentar a novidade. 'Ó tão emocionante um acidente de verdade.'. Estão todos satisfeitos com o sucesso do desastre: '- Vai passar na televisão.' [...] 'Entendo seu problema mas não posso resolver: É contra o regulamento, está bem aqui, pode ver." Ordens são ordens. [...]" (Metrópole por Legião Urbana)

terça-feira, 17 de julho de 2007

Amálgama

 Todos os grandes poetas escrevem a dor
 os cantos de paz ficam ao vento, são sensações fugazes
 é sempre preciso que um homem tropece; caia; estoure; torne-se cacos
 Assim faz-se história
 é sempre preciso que se tenha ritmo; trilhas; sonoras; trincheiras
 Assim faz-se história
 O homem é poeta da dor - ama doer-se;
 Fragmenta linhas para que as sinta partindo-se: poemas
 Corta pedaços de carne, de letras, de signos
 O sangue que jorra é a emoção no seu auge
   está pronto o poema
   mais um sorriso sacrificado em benefício da história
 A imortalidade é sofrível,
 tão poucos os homens que cresceram com ode à paz
 Desfragmentemos as linhas. É preciso mais que dor e abismo para construir grandes mitos assim como os grandes heróis sempre triunfam após tantas quedas é necessário que cada poeta possa respirar aliviado no triunfo final da sua dor sentir-se imortal não pelo que chorou em palavras e escorreu em papéis mas pelo que transbordou para acalmar seu leito assim como fazem todas as grandes tempestades nos pequenos copos de água assim como faz o mundo;
 Desfragmentemos a felicidade. Agora todo homem é convocado a cantar a paz assim como pequenas histórias infantis e velhas cantigas de ninar já que o homem em seu final é sempre o saldo de suas ações que positive seus sons e que sorria suas letras;
 Desfragmentemos os poetas. Os ruídos serão considerados arte e a luz e os passos e as entranhas e os sorrisos e os tímidos e os trôpegos e cada mulher e cada homem e cada face e cada ruga e cada suspiro e cada pensamento e cada respiração e cada piscada e cada gozo;
 Desfragmentemos o mundo. Para que cada mão calejada sinta-se a reencarnação do sucesso para que cada gota de suor saia leve e concisa de que foi fruto da felicidade maior que é viver;
 Desfragmentemos as linhas. Para que saibamos um dia desfragmentar nossas vidas;
 E todo grande poeta escreverá o sorriso
 E assim far-se-á história.
 Desfragmentemos a história,
 antes que viremos apenas fragmentos da grande amálgama que somos nós mesmos.

domingo, 15 de julho de 2007

Harry Potter e a Ordem da Fênix

  (contém spoleirs)
  Enquanto todo mundo corre para ver as estréias logo quando elas surgem, eu fico na minha, esperando a poeira baixar. Apareço quando a oportunidade surge, e com Harry Potter ela apareceu bem rápido.
  O que declarar? O filme é legal mas não superou o anterior. O Cálice de Fogo teve um equilíbrio quase ideal entre humor e tragédia, teve cenas em que todo mundo riu e eu ainda vi gente sair chorando do cinema.
  No novo filme falta alguma coisa... Apesar de eu ter rido muito de quando Dumbledore fazia suas entradas triunfais e todo mundo gritava. Ou de quando alguém levava um "queima" e o pessoal fazia o "tssss". Interação da platéia, nossa. Seria até muito mais legal se eles tivessem calado a boca logo em seguida pra eu poder ouvir o resto das coisas. É o eterno problema dos cinemas.
  O grande defeito das adaptações de HP é que as cenas de ação são sempre muito bobas. Querendo se encaixar em um tempo pequeno e ainda agradar o público mais novo, costumam pecar no que poderia ser o auge do longa. Penso, desde o primeiro filme, que para um bruxo que ameaça todo um mundo mágico e trouxa, que aterroriza grandes nomes e que pode instaurar o caos, Voldemort sempre foi muito bobinho. Vencê-lo sempre foi muito fácil quando se assiste às cenas da telona, Harry nunca parece realmente estar sob perigo mortal e Dumbledore perde a maior parte da sua magnificência quando recriam ali seu personagem.
  Das mudanças habituais nós poderíamos reclamar também, mas isso é tão de praxe que até já encheu o saco. Eu sei que a história muda quando é Cho que entrega a AD, que Firenze nem aparece para dar aula, que Monstro não faz lógica no filme, que o Avada Kedrava em Sirius se interpôs nos delírios de muita gente e que muito mais coisas poderiam passar despercebidas, mas não passam. Só que isso já era de se esperar. A cada nova adaptação eu tenho que ouvir alguém ao redor reclamar das mudanças feitas, já me acostumei.
  Só que ninguém vive apenas de reclamações, né? Tenho que confessar que eu amei a Tonks e a Luna. As duas são totalmente diferentes da idéia que eu tinha. Confesso que a Luna foi completamente distorcida pela minha imaginação, mas, nem ela nem a Tonks, deixaram a desejar. Em compensação a Umbridge... Nojentinha mas nada a ver com minhas idealizações.
  Certo é que ficou aquele gostinho de quero-ler-logo-um-novo-livro, isso não dá pra negar. No entanto, a sensação de que está acabando... essa é a pior. Quanto tempo vai demorar para aparecer um novo fenômeno ao nível de Potter? Eis a questão.

quarta-feira, 11 de julho de 2007

Hiperacusia cerebral

   Li sobre a hiperacusia depois de escrever aquele texto sobre poluição sonora. Minha mente continuou caminhando nesse assunto e, como de costume, distorci o significado até criar minhas próprias idéias.
   A hiperacusia é uma hipersensibilidade que caracteriza-se por uma tolerância reduzida a sons, que poderiam passar despercebidos para a maioria. Ruídos menores passam a irritar como se fossem ruídos de grande intensidade.
   Cheguei a uma conclusão muito importante (cof) para a ciência: É isso que ocorre também com o nosso humor, pelo menos com o meu.
   Existem dias que são perfeitos e que acabam sendo jogados na lixeira por algum pequeno detalhe. Existem grandes coisas e grandes momentos que depois têm os bons adjetivos riscados porque faltou algo que fez tudo perder a graça. Momentos de risadas que depois se transformam, repentinamente, em um desespero descomunal por uma pequena coisa fora do lugar.
   O cérebro tem um desconfortável costume de aumentar a proporção dos problemas. Coisas insignificantes crescem e engolem o nosso bom humor. Quando essas coisas são resolvidas, toda a impressão de que o mundo está errado dissolve como se jogássemos um balde d'água na sujeira supérflua.
   O interessante é que isso depende de coisas sempre muito iguais. Certas pessoas ou certos costumes, palavras, frases, manias. O cérebro faz uma lista do que nos é importante e declara guerra quando algo disso está um pouquinho fora do normal.
   É essa "hiperacusia cerebral" que impede as pessoas de aproveitarem melhor suas vidas. Estão sempre reclamando dos problemas pequenos e esquecem das grandes felicidades. Não as culpo, pelo menos não agora depois de toda essa teoria, mas espero que, sabendo do problema, cada um possa encontrar seu remédio e sua prevenção.
   A felicidade também vive aqui do lado só que a gente não vê.

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Mecanizar-se

   Acordou às sete e meia da manhã. Sempre achou que este era o horário mais claro de qualquer mente. Uma noite bem dormida, era isso que qualquer pessoa precisava para reiniciar o cérebro. Depois das convulsões de idéias que ocorrem na madrugada, a manhã é o horário em que todos os arquivos temporários são apagados e já é possível pensar sem que seus próprios pensamentos lhe passem a perna.
   Foi por isso que acordou às sete e meia da manhã. Nenhum outro motivo realmente importante pode ser citado. Tinha olhos de zumbi, o corpo ainda estava quente pelas cobertas. Levantou-se o menos pesarosamente que pôde – deixar que os sonhos morram é realmente difícil – e caminhou até o guarda-roupa.
   Esse não é um conto de fadas em que os mocinhos entram em móveis e acabam encontrando um mundo encantado. Não, esta é uma história real. O máximo que poderíamos encontrar seria um mundo doentio, mas, talvez por isso, ela não tentou entrar na mobília. Abriu as portas e pegou uma série de livros. Deitou-os sobre a cama. A pilha era grande, como corpos jogados depois de uma guerra.
   E, então, engoliu cada um deles. Cada pedaço de página. As capas vermelhas começavam com um ardiloso gosto de maçã e terminavam com morangos. Grandes morangos gostosos. As verdes cheiravam à hortelã e as rosas lembravam mangas maduras. Capas pretas, de cacau. Capas brancas, de banana. Tudo cautelosamente triturado e enviado para o próximo setor. Algumas vezes encontrou coloridos diferentes com gosto de algodão doce. Mas as páginas, ela garantiria, sempre eram brancas e sempre tinham um fervoroso gosto de idéias.
   Comeu todas as frutas. Comeu todas as idéias. Comeu cada uma das capas, cada uma das páginas. Uma por uma, sem deixar migalhas. Quando terminou o banquete, estava tão farta que não teve mais forças. Dormiu. O sono das idéias sendo arquivadas pelo cérebro.
   Mecanizar-se, mas jamais automatizar-se. Ela era uma máquina pensante, diziam-lhe nos sonhos, e as idéias eram seus combustíveis.

domingo, 1 de julho de 2007

Psicografando

   O mais engraçado quando eu escrevo é que muitas vezes depois de pronto, quando leio o que escrevi, parece que não fui eu que fiz aquilo. Principalmente textos que fiz já há algum tempo. Olho para eles e digo "Porra, não acredito que fui eu quem disse isso!". Não dá pra saber de onde surgiram, nem se estiveram durante todo o tempo ali mesmo dentro da minha cabeça. Até penso que alguns professores meus devem ter achado que eu copiei uns desavisados por aí. Ainda bem que existem as provas pra provar que não, hein.
   Vou começar realmente a analisar se não psicografo algumas coisas...
   Vinde a mim, Agatha Christie!

   Alguém mais tem essa impressão sobre seus próprios textos?